terça-feira, 26 de outubro de 2010

Em cena no Theatro Circo



2 a 6 de Novembro - 21h30
2, 4 e 5 de Novembro - 15h (sessões escolares, mediante marcação)
Sala Principal do Theatro Circo

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Colóquio

Valle-Inclán no Theatro Circo
3 de Novembro – 15h
Sala de Actos do Instituto de Letras e Ciências Humanas
Universidade do Minho

A CTB – Companhia de Teatro de Braga e o Departamento de Estudos Românticos, do Instituto de Letras e Ciências Humanas (ILCH), da Universidade do Minho (UM), promovem o colóquio “Valle-Inclán no Theatro Circo”, dia 3 de Novembro, às 15h.
A decorrer na Sala de Actos do ILCH, na UM, em Braga, a palestra, aberta ao público em geral, abordará a vida e obra de Ramón del Valle-Inclán, tendo como pano de fundo A Cabeça do Baptista, peça que a CTB estreou a 5 de Outubro e está em cena no Theatro Circo.
Na conferência estarão presentes Manuel Guede Oliva, encenador do espectáculo; actores do elenco e Xaquín Núñez Sabarís, professor da UM; a moderação estará a cargo de Carlos Pazos, professor da UM.
Ramón del Valle-Inclán (Vilanova de Arousa, Pontevedra, 1866 — Santiago de Compostela, 1936), notável autor da literatura espanhola, foi escritor, poeta, dramaturgo, principal renovador do teatro do século XX e criador de um modo teatral próprio: o “esperpento”, que se caracteriza pela distorção grotesca da realidade, com o implícito desígnio de criticar a sociedade. Republicano, manteve contacto com a intelectualidade portuguesa, publicou textos na imprensa nacional, traduziu obras de Eça de Queirós e foi membro da Sociedade de Amigos de Portugal.
Valle-Inclán foi também Professor Catedrático de Estética da Academia de Belas Artes de San Fernando (1916), Presidente do Ateneu de Madrid (1932) e Director da Academia Espanhola de Belas Artes de Roma (1933).

terça-feira, 5 de outubro de 2010

No início do século passado perguntaram a Valle-Inclán como imaginava que seria o teatro no séc. XXI. Ele, que na altura andava a fugir de uma cena provinciana, burguesa e que, portanto, já era um autor problemático para o seu tempo e de difícil materialização cénica, respondeu rotundo ao jornalista que se o soubesse já o estaria escrevendo.
Estamos agora a um século daquela pergunta e o teatro de Valle-Inclán aparece diante de nós coarctado de uma arquitectura actualíssima, como recém-imaginado para se afundar nas tensões do homem de hoje, luxúria, avareza e morte, e agarrar-nos nas correntes de uma contemporaneidade perplexa, submetendo a nossa acção ao seu ditado radicalmente moderno, como se, verdadeiramente, o seu real compromisso consistisse em escrever para cem anos depois de seu tempo.
Eu, em qualquer caso, como encenador deste aqui e deste agora concreto, não sinto que nada do teatro de Valle-Inclán me resulte anacrónico, velhas heranças de sobrado, mas, pelo contrário, a sua proposta teatral obriga-me a imaginar soluções de arriscada exigência cénica.
Bem sei que Valle-Inclán não é um autor frequente nos palcos portugueses embora os mais sábios da tribo conheçam as estreitas relações que o nosso autor manteve com os intelectuais lusos mais comprometidos do momento e a sua vocação republicana. O seu intenso envolvimento com a língua tem-no, paradoxalmente, afastado de muitas literaturas europeias, dada a dificuldade de adaptar os seus textos sem que se veja alarmantemente perdida a sua genialidade.
Por isso, é para mim uma enorme satisfação contribuir para que a sua palavra seja incorporada no reportório de uma das companhias históricas do teatro português, com tudo quanto significa de aprofundamento do diálogo empreendido há muito tempo entre a Galiza e o Norte de Portugal.
Obrigado, claro, a Rui Madeira por tê-lo proporcionado.

Manuel Guede Oliva

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Afinidades electivas

A Companhia de Teatro de Braga mantém há longos anos, com o teatro galego, relações de trabalho e de amizade. Esses afectos tem tido expressão pública, nas co-produções, no acolhimento de espectáculos da Galiza no Teatro Circo, de actores galegos em produções da CTB, na participação conjunta em jornadas de reflexão sobre o teatro e as suas práticas, na escrita e na edição. Essas relações foram sendo alargadas à Cena Lusófona e a outras Companhias como A Escola da Noite de Coimbra, o Centro Dramático de Évora. Não começaram com a CTB e todos seremos sempre poucos para o muito que há por fazer. Ao longo dos anos, uma ideia tem norteado alguns homens e mulheres de teatro do Norte de Portugal e da Galiza: romper as barreiras invisíveis (as mais difíceis) que obstam a uma verdadeira circulação da criação artística teatral neste território, irmanado pela raiz de uma língua comum, integrado nesta euro-região e tão necessitado de ideias estratégicas onde a cultura e a criação artística possam alavancar (de facto) o discurso económico.
Esta é a terceira vez que Manuel Guede dirige a Companhia. Não se trata apenas do nosso reconhecimento quanto à relevância do Manuel na busca de soluções e propostas para levarmos por diante esta ideia de território Comum da Cultura Teatral. Manuel Guede faz parte de um grupo de homens e mulheres de teatro que “discutem” com e na Companhia, os processos de criação. É da Casa.
Valle-Inclán, autor galego do Mundo que, pela sua própria história de vida, está profundamente ligado aos meios culturais e políticos do que foi o princípio do republicanismo português. Também por isso, estreamos A Cabeça de Baptista a 05 de Outubro.
Estamos, portanto, num território de afinidades electivas. O Autor. O Director. Os Actores. As Companhias. A Política.
Façamos votos para que, com mais este passo, os decisores políticos, dos dois lados, ajudem a dar sustentação aos caminhos que os Artistas vão calcorreando nestes anos duros de Xacobeo.

Rui Madeira,
Director da CTB

domingo, 3 de outubro de 2010

A Cabeça do Baptista no teatro português

A vontade de renovação dramatúrgica de Valle-Inclán motivou uma difícil relação com o teatro comercial do seu tempo. A dificuldade para chegar aos palcos espanhóis explica, sem dúvida, a ausência de estreias em Portugal em vida do autor. Foi preciso aguardar até ao ano de 1964 para ver a primeira montagem de uma obra do escritor galego: Divinas Palabras, dirigida pelo célebre director José Tamayo e representada no Teatro D. Maria II pela Companhia Rey Colaço-Robles Monteiro.
Mas, apesar das omissões cénicas, Valle-Inclán começava a ter um grande prestígio como dramaturgo. Por isso, foi precisamente A cabeça do Baptista a obra escolhida para ser traduzida e publicada na revista Civilização, no seu número 6, em Dezembro de 1928. É muito provável que a influência que a Salomé de Wilde estava a ter no teatro simbolista português da época e a repercussão da estreia da peça de Valle-Inclán em 1925, em Barcelona (mencionada no nº 1 da própria revista), despertassem o interesse pela obra. Ainda é preciso acrescentar o facto de que a montagem espanhola tinha como protagonista a conhecida actriz italiana Mimí Aguglia, que em datas próximas tivera grande sucesso no teatro D. Maria II com a interpretação da obra de Pirandello, Ciascuno a suo modo.
A obra foi, finalmente, representada pela primeira vez juntamente com Laço de sangue e Sacrilégio (obras que também fazem parte do Retablo de la avaricia, la lujuria y la muerte) na Casa da Comédia e dirigida por Osório de Castro, com sucesso de crítica e público. Oito anos mais tarde, o director Blanco Gil, com o Teatro do Nosso Tempo, estreou o espectáculo Avareza, luxúria e morte n´arena ibérica. Posteriormente, em 1995, José Luis Gómez e a companhia de La Abadía trazia aos palcos portugueses as cinco peças juntas do Retablo, mas, neste caso, já não se trata de uma montagem portuguesa. De facto, no caso de Valle-Inclán, a tónica imperante, uma vez recuperada a normalidade democrática, foi a visita de espectáculos espanhóis aos teatros portugueses, mas as iniciativas próprias para representar o teatro de Valle em português foram residuais.
Resta, por isso, felicitar a Companhia de Teatro de Braga e o Manuel Guede por esta ambiciosa e esperada iniciativa, a qual, decorridos quarenta anos da estreia da peça, tem o desafio de conseguir o propósito que o crítico Carlos Porto exprimia acerca do espectáculo de Osório de Castro: “criar o milagre do Valle-Inclán em português”.

Xaquín Núñez Sabarís
Professor da Universidade do Minho